quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Dissertação sobre as vírgulas…


Dissertação sobre as vírgulas…

À minha amiga Maria João Correia,
que se diverte imenso, quando eu
invento uma vírgula…

Não ligues
são apenas moscas
entre as palavras
como se fossem pestanas
a embelezar o olhar
de quem as lê.
São artifícios burlescos
para ilustrar os discursos dos políticos
às segundas feiras
quando inventam as mentiras
para entreter os jornais durante a semana
são as pausas do esquecimento
quando já não há mais nada para dizer
a não ser o que foi dito
ou, se quiseres, são os berros do Cristiano Ronaldo
quando os neurónios migram para os pés
e ele dá pontapés na gramática.
A vírgula é uma síntese do nada
e o limite do zero absoluto,
a bissetriz dos ângulos rugosos da memória,
o ponto morto do equador,
que o Gama levou para a Índia
e que por lá ficou a apodrecer
no túmulo de um jesuíta.
Mas a vírgula é muito mais do que isto.
A vírgula é, na sua profunda essência e potência,
a caganita da mosca, que aterrou no poema…

Alexandre de Castro

Lisboa, Janeiro de 2015 

4 comentários:

Maria disse...

Grata. O Alexandre é imenso...Beijinho.

Alexandre de Castro disse...

Obrigado, Maria. Pela visita e pelo comentário. Beijinho.

mamanka disse...

Gostei muito das suas vírgulas, de ironia, neste seu interessante poema. Tentei escrever uma frase onde elas aparecessem para dizer obrigada Alexandre. Beijinho de bom fim de semana.
Maria Gouveia

Alexandre de Castro disse...

Maria Gouveia: Eu é que agradeço a sua simpática mensagem.
Beijinho.