Tempo dos Sentidos
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019
sexta-feira, 11 de maio de 2018
Maio 68...
Maio 68...
Foi o Maio da esperança, em França,
delírio épico de uma revolução romântica
a cantar os hinos de todas as rebeldias,
e a fazer crescer o sonho contra o desencanto.
…
Inspirou Portugal, na Revolução dos Cravos,
que rompeu as trevas numa manhã de Abril.
…
Era um mundo velho, decrépito, que morria
Era um mundo novo, de sonhos, que nascia…
Alexandre de Castro
Lisboa, Janeiro de 2018
quarta-feira, 14 de março de 2018
Adeus, Stephen
Hawking…
Foste habitar aquela estrela, que descobriste,
e pela qual te apaixonaste,
depois de teres encontrado Deus
num buraco negro, onde ELE se escondia,
para o obrigares a renegar tudo o que ELE dizia
sobre a criação do Universo e da vida humana…
Do teu corpo morto fizeste uma nova vida
para o nosso espanto,
pois não temos a tua força nem a tua
inteligência
nem sabemos devorar as insónias
das galáxias, das estrelas, dos planetas e dos
cometas
e tudo aquilo que a Física Quântica
provoca nas nossas cabeças
com as suas insondáveis incógnitas…
Nasceste no dia em que Galileu, há trezentos
anos, morreu,
e morreste no dia em que Einstein nasceu,
na ponta final de dois séculos atrás,
e eu não sei se isto não foi uma partida de
Deus,
para vos catalogar à entrada do céu…
O que eu sei é que vais levar os seus corações
na tua mão
para que a Física vença a ignorância
e triunfe no meio das trevas e da escuridão…
Adeus, Stephen Hawking…
Alexandre de Castro
Lisboa, Março de 2018
sexta-feira, 2 de março de 2018
Carta de Antuérpia
Carta de
Antuérpia
A tua carta trouxe-me todo frio de Antuérpia
as palavras ainda vinham geladas
e as minhas mãos tremeram de medo,
aquele difuso medo da orfandade
e de ficar irremediavelmente perdido…
Alexandre de Castro
Lisboa, Março de 2018
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
Homine…
Homine…
Na Antiga Idade,
era uma mercadoria
uma mercadoria com vida
que de escravo seria…
Apagavam-lhe a identidade
para lhe negar a liberdade…
Na Média Idade,
promoveram-no a servo,
da gleba, dizia-se,
mas negavam-lhe a terra
que a um senhor pertencia…
Na Nova Idade
passou a operário
trabalhava mais de metade do dia,
na fábrica ou na mina,
cumprindo um doloroso horário
em que lhe sugavam o sangue
negando-lhe o justo salário…
E chamaram a isso democracia…
E hoje, embora livre,
e com direitos consignados
pelo regime liberal,
sendo amanuense ou operário,
continua a ser escravo,
dos senhores do Grande Capital…
E andam a dizer que isto é mais democracia…
Alexandre de Castro
Lisboa, Fevereiro de 2018
domingo, 17 de dezembro de 2017
Um olhar sobre Lisboa Simbólica - Fernanda Lobo (UNISBEN 2015)
Lisboa é uma cidade de brilho e de luz, de azuis
cintilantes, mas as suas verdadeiras pérolas encontram-se nos pormenores das
ruas e vielas, nos cruzamentos das esquinas, na intimidade dos largos, nas estátuas, nas
praças e nos segredos guardados nos palácios - e que ninguém vê. É necessário aprender, para
saber sentir e viver o deslumbramento que Lisboa desperta.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
Recuso fazer a contabilidade da morte...
Recuso
fazer a contabilidade da morte...
Recuso fazer a sinistra contabilidade
da morte, que companheiros ceifa,
o tempo escurece nas saliências da memória
e as flores da primavera já não são as mesmas
esgotam-se as incandescências da luz
que vestimos na juventude,
a endoidecer os astros
que nos acusavam aos deuses
das nossas tropelias e rebeldias…
Era o tempo puro da liberdade das aves
que não queriam morrer na praia nem no deserto…
Era a vida a pulsar nos punhos,
no turbilhão do sangue
e que agora morre, irremediavelmente,
no turbilhão do Tempo.
Alexandre de Castro
Lisboa, Dezembro de 2017
domingo, 10 de dezembro de 2017
Oração poética
Oração
poética
Quando se fala de caridade
deve falar-se de fé e ideologia
e de
Isabel Jonet*
que trabalha de graça para Deus,
embora o Nazareno,
sem saber a tabuada,
lhe tenha feito uma partida,
baralhando o jogo
com o milagre da multiplicação dos pães...
Alexandre de Castro
Lisboa,
Dezembro de 2017
*Directora
do Banco Alimentar Contra a Fome
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
A síndrome do olho direito - Poema de Maria Azenha...
A síndrome do olho direito
hoje ao sair de casa encontrei algumas pessoas
com um tremor miudinho nas pálpebras
nas lojas onde entravam empregados e outros
entes
sofriam da mesma tremura
reparei que o fenómeno estava instalado no olho
direito
o que é intrigante é que alguns comentadores
políticos
repetiam o charme da tremura do mesmo lado
quando olhavam para a câmara era uma tremedeira.
pensei que era até uma herança da troika
o caso agravou-se porém quando foi dado nota que
um homem
para deixar de tremer instalou na cabeça uma
gaiola.
sob o efeito da notícia o país começou a
escrever
em escrita automática.
hoje quando regresso ao trabalho a primeira
coisa que faço
é esconder o olho direito com uma pala.
–
maria
azenha
***«»***
O meu
comentário:
Um genial poema caricatural, certeiro e
arrasador na forma e no tema, e que elege o lado mais ridículo e mais caricato
do cenário político português (e sem esquecer os tempos negros da troika).
A “tremedeira nacional do olho direito”, que a
“poeta” sinalizou no título como “A síndrome do olho direito” é uma metáfora
riquíssima e talentosa, pela mordacidade que transporta e pelos vários
significados políticos que contém. Significados que a “poeta” não necessitou de
especificar, pois todos eles se inferem, logo numa primeira leitura. E para
engalanar o círculo poético da sátira corrosiva, a “poeta” agrega ao poema o
aparecimento de uma nova e inesperada epidemia nacional, que alastrou a um
determinado segmento da população portuguesa, que o leitor também rapidamente
identifica, e que tem um grau de perigosidade idêntico ao da peste negra, na
Idade Média.
Este poema é incisivamente cáustico e demolidor
para os traficantes das ilusões saídas em série das fábricas dos sonhos e
transformadas em promessas de curta duração, que nunca se cumprem.
E isto é de tal modo verdade, que eu já vi
pessoas com gaiolas na cabeça e comentadores dos jornais “a escrever em escrita
automática”.
Alexandre
de Castro
2017 11 13
sábado, 11 de novembro de 2017
Pôr do Sol _ Fotografia de Milú Cardoso
domingo, 5 de novembro de 2017
Há matéria para lá da matéria...
Há matéria para lá da matéria...
Para lá
do Universo que se vê e se advinha
há um
outro universo que se esconde
e não se
deixa ver.
É a
matéria escura,
onde
mergulha o mistério…
E ainda
não se sabe o nome do Deus
que lá
habita
nem o do
livro sagrado que escreveu…
Alexandre de Castro
Lisboa, Novembro de 2017
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Maio renasce em mim todos os anos…
Maio renasce em mim todos os anos…
Maio
renasce em mim todos os anos
na
minha contabilidade entre o futuro e o passado
o
Deve/Haver dos números de uma vida
entre
passivos e activos, lucros e perdas
saldos
negativos e positivos
registados
no Livro do Tempo
de
todos os calendários…
Maio
renasce em mim todos os anos
na
geometria da rotação da esfera
crescem
os poliedros de arestas agrestes
e
cortantes, que me atormentam…
Maio
renasce em mim todos os anos
e
hoje é o dia da conjunção de todos os astros
que
se reuniram em secreto concílio
para
me julgarem à revelia
por
eu me ter revoltado contra os signos do Zodíaco…
Maio
renasce em mim todos os anos…
Alexandre
de Castro
Lisboa,
Maio 2017
sexta-feira, 19 de maio de 2017
Elefante numa loja de porcelanas…
Nu, folhas verdes e
busto _ Pablo Picasso
|
Elefante numa loja de
porcelanas…
Há
mulheres que escrevem poemas às escuras
na
mão escrevem um nome de um santo.
Sentadas,
ficam à espera que as tempestades
desabem
sobre os homens das suas paixões
normalmente
são mulheres estéreis
que
foram educadas à sombra dos conventos
e que se benzem antes do coito,
assombradas
por medos ancestrais.
Tenho
de as segurar nos abraços fatais
quando
reviram os olhos nas órbitas dilatadas
e
o corpo é uma haste trémula de um arbusto
sacudido
pela passagem do vento.
Não
há um sorriso de encantamento,
naqueles
rostos cerrados, habituados à clausura
apenas
o fantasma do pecado
e
a sombra negra do pesadelo nas noites brancas…
Alexandre
de Castro
Lisboa, Abril
2017
Incandescências _ Fotografia de Milú Cardoso (**)
Incandescências _ Fotografia de Milú Cardoso |
Incandescências _ Fotografia de Milú Cardoso (**)
Nesta fotografia de Milú Cardoso está tudo: luz,
cor, contraste e forma, e, acima de tudo, a enorme capacidade da autora de
descobrir a oportunidade para captar a beleza, que a Natureza oferece. Há algo
de mágico, nesta fotografia, que nos encanta. E dela escorre uma serenidade, que
nos seduz. Repare o leitor como os mastros das embarcações, batidos pela luz
rasante do Sol poente, ganham outra majestade e beleza. E, a marcar o
horizonte, a luz do fogo a incendiar os nossos olhos.
Alexandre
de Castro
(**) Título do editor
2017 05 18
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Dunas _ Fotografia de Milú Cardoso
Dunas _ Fotografis de Milú Cardoso |
Dunas _
Fotografia de Milú Cardoso
A fotografia de Milú Cardoso tem uma particularidade interessante: a descontinuidade do plano de profundidade, conseguida pela ocultação do plano de médio fundo, através da sobrevalorização visual - magnífica, e esteticamente brilhante - do primeiro plano, o imediatamente perceptível para o observador, em que surge o entrelaçado das hastes dos arbustos, num efeito de rara beleza.. O contraste do amarelo dos arbustos com o azul das águas do mar acaba por enriquecer o conjunto. Trata-se, pois, de uma belíssima fotografia.
Alexandre de Castro
2017 04 09
domingo, 7 de maio de 2017
Poemas para o Dia da Mãe _ vários
6 poemas para o Dia da Mãe
Poema à Mãe
Eugénio
de Andrade
No
mais fundo de ti
Eu
sei que te traí, mãe.
Tudo
porque já não sou
O
menino adormecido
No
fundo dos teus olhos.
Tudo
porque ignoras
Que
há leitos onde o frio não se demora
E
noites rumorosas de águas matinais.
Por
isso, às vezes, as palavras que te digo
São
duras, mãe,
E
o nosso amor é infeliz.
Tudo
porque perdi as rosas brancas
Que
apertava junto ao coração
No
retrato da moldura.
Se
soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez
não enchesses as horas de pesadelos.
Mas
tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste
que as minhas pernas cresceram,
Que
todo o meu corpo cresceu,
E
até o meu coração
Ficou
enorme, mãe!
Olha
- queres ouvir-me? -
Às
vezes ainda sou o menino
Que
adormeceu nos teus olhos;
Ainda
aperto contra o coração
Rosas
tão brancas
Como
as que tens na moldura;
Ainda
oiço a tua voz:
Era
uma vez uma princesa
No
meio do laranjal...
Mas
- tu sabes - a noite é enorme,
E
todo o meu corpo cresceu.
Eu
saí da moldura,
Dei
às aves os meus olhos a beber.
Não
me esqueci de nada, mãe.
Guardo
a tua voz dentro de mim.
E
deixo as rosas.
Boa
noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de
Andrade
***«»***
Porque os outros
se mascaram mas tu não
Sophia
Mello Breyner Andresen
Porque
os outros se mascaram mas tu não
Porque
os outros usam a virtude
Para
comprar o que não tem perdão.
Porque
os outros têm medo mas tu não.
Porque
os outros são os túmulos caiados
Onde
germina calada a podridão.
Porque
os outros se calam mas tu não.
Porque
os outros se compram e se vendem
E
os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque
os outros são hábeis mas tu não.
Porque
os outros vão à sombra dos abrigos
E
tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque
os outros calculam mas tu não.
Sophia Mello
Breyner Andresen
***«»***
Ontem e hoje,
Mãe!
Maria
Azenha
Mãe,
ainda
que na Árvore da Vida habites,
sinto
a ausência dos teus beijos.
O
nosso amor é como um vaso de leite derramando branco
nas
nuvens.
As
células do nosso corpo,
pequeníssimas
estrelas,
comungam
todas da mesma revolução.
Mãe,
a
comunhão é um estado de autoconhecimento.
e
a matéria veste-se para o Inconsciente:
primeiro,
sono.
depois,
sonho.
por
fim,
rendição.
Tu
és Deus, e eu também.
Quando
te chamo, avanças
quatro,
cinco,
seis
mil anos.
Quando
entramos em sintonia com os astros
sentimos
a alegria do comunismo
das
árvores em tuas mãos.
A
Vida é um hiper-estado de consciências.
Os
crimes são anti-humanos.
As
formigas, radiogaláxias que estabelecem comunicações
através
das suas pequenas antenas.
Os
poetas fazem parte desta sociedade de partículas.
Mãe,
as
últimas ondas de luz do universo
transformaram-se
em humildes campos terrestres.
Mãe,
não
consigo dividir-me por zero.
Tudo
está em expansão, quero dizer:
cada
vez mais próximo dum ponto central.
Cada
centro do espaço
é
um novo projecto.
E
a luz, a harpa de Thales,
que
um dia disse: " Tudo está cheio de Deus".
Eu
digo, deus ou deuses
porque
as nossas almas são partículas enraizadas nos céus.
Sabes
como os asteróides representam a mesma dança – são eles isotrópicos.
Cantam
a Incriação.
E
eu entro no câmbio,
-
colho as sementes do espaço que não mais
existem
no zero.
Ontem,
tornei-me
photograficamente um quantum.
Alguém
disse: " Vieste do Improvável e vais para o Improvável".
Movimentamo-nos
em campos de energia. Dançamos.
Deles
brota a sagrada estrela da Harmonia.
Mãe,
dizem
os índios:
"Se
temos um coração bom quando dançamos,
então,
chove."
maria azenha
***«»***
Mãe...
Sónia M
(...) Mãe
não te canses ainda.
Continua a ouvir meu desabafo.
Limpa minhas lágrimas puras,
de um sofrimento
que em mim não finda.
Envolve-me com o teu abraço ternura.
Aquece-me a alma no teu peito.
Olha-me com esse teu jeito
de que a infância para sempre dura.
(...)
Sónia
M
***«»***
Sem
Título
Maria Gomes
De onde te escrevo, resignam-se as
árvores
as inextinguíveis árvores que ouvíamos
rezar
e o sol sem ninguém, a sombra híbrida, a
vida…
é por isso que eu ando por dentro do coração
das coisas, mãe.
Tenho, agora, o meu rosto no sangue,
pugna o mais breve pássaro que aprovou o
silêncio.
com a dor que sinto,
como um círio extinto dou-me à terra
duradoura,
deflagram os longínquos rios quando o
sol se apaga.
Outrora, a paisagem era a lisura da
espuma,
tecia-lhe os olhos. vinha à boca o trigo
íngreme das marés.
e tudo aquilo era vertiginoso, tranquilo
–
uma mulher largava o linho anil
e ele trazia-nos todas as rosas, mãe.
Mariagomes
***«»***
Mãe
Alexandre de Castro
Naquele último momento
tentaste confessar-me um segredo,
um segredo qualquer
guardado uma vida inteira
e que eu não entendi
porque a tua fala desesperada
ficou suspensa
nos lábios imobilizados.
Só os teus olhos alarmados
mexiam de ânsia e medo.
Mas não sei se seria realmente um
segredo
o que me querias dizer
ou apenas um último lamento
ou até, quem sabe,
a recordação daquelas tardes de Junho,
quando ainda era criança,
em que te deitavas comigo
(enrolados num cobertor de papa)
com medo das trovoadas.
- É Deus que está a ralhar – dizias-me,
enquanto me apertavas com carinho,
para me proteger.
Talvez, também, quando me perdi de ti,
por um breve instante,
e perguntei, depois de te reencontrar,
se eras realmente a mesma mãe,
se não eras outra, igual à primeira,
de um mundo que, por momentos,
eu imaginei duplicado, em coisas e
pessoas,
e que agora sei que não existe,
porque tu já morreste
e eu não vejo nem tenho outra mãe.
Alexandre
de Castro
Lisboa, Maio de 2007
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